Era por volta das 6h25 do dia 3 de setembro do ano passado quando Josivan Manoel Cruz dos Santos, 19 anos, foi encontrado morto, com um saco amarrado na cabeça. Ele era pardo e faz parte das estatísticas que mostram que do total de pessoas mortas por agressão no ano passado na Paraíba, 83,9% eram negros ou pardos.
As informações são do Anuário Brasileiro de Segurança Pública, publicado essa semana. Ainda conforme o estudo, essa parcela da população também é a que mais ocupa os presídios do Estado, correspondendo a 81,7% da população carcerária.
Segundo a pesquisa, 1.545 pessoas foram vítimas de mortes por agressão na Paraíba em 2013. Desse total, 1.273 eram pardos, 90 brancos, 24 negros e um índio. O estudo mostrou, ainda, que a parcela da sociedade que compila negros e pardos também é mais vulnerabilizada, sendo a que mais ocupa os presídios do Estado. Nesse quesito, a situação é ainda mais díspar. No ano passado, 8.958 pessoas estavam presas. Destas 7.319 eram negras ou pardas enquanto apenas 1.396 eram brancas.
Em todo o país, as estatísticas se repetem. Quando o assunto são os homicídios, os negros são 30,5% mais vítimas. Além disso, eles são 18,4% mais encarcerados com relação aos brancos.
De acordo com a secretária da mulher e da diversidade humana do Estado, Gilberta Soares, não é desconhecida a vulnerabilidade social em que a população negra vive. Segundo ela, isso é fruto de um processo histórico que vem desde a escravidão até os dias atuais, onde se observa que, mesmo em um país como o Brasil, em que a miscigenação é evidente, essa discriminação ainda é um desafio com o qual temos que nos preocupar.
“Se pudermos citar um exemplo, podemos dizer que 96% das empregadas domésticas são negras. Isso não é coincidência, mas sim resultado de um processo de desigualdade que é fruto do processo de escravidão. E esses números de mortes e prisões só reiteram esse processo de exclusão social”, comentou.
Para reverter isso, a secretária garantiu que, na Paraíba, vem sendo feita uma articulação da Secretaria da Mulher e da Diversidade Humana com os municípios para garantir uma diminuição das discriminações, evitando práticas racistas e propiciando maiores oportunidades. “Temos que entender que esse não é um processo automático, mas, sim, de mudança de mentalidade. Essa população sofre nas escolas, falta qualificação profissional em todos os setores e, por isso, é um trabalho que precisa ser feito em conjunto com outras secretarias.
Aqui no Estado, atualmente, estamos trabalhando com programas em seis prefeituras [João Pessoa, Campina Grande, Bayeux, Santa Rita, Cabedelo e Patos], que são as que apresentam maiores índices de desigualdade além de serem as cidades com maior densidade populacional. Nosso objetivo é avançar nessa política de construção de igualdade social bem como propiciar melhorias em todos os sentidos para os negros e pardos”, garantiu.
JOVENS LIDERAM ESTATÍSTICAS DE ASSASSINATOS E PRESÍDIOS
Outro dado do Anuário Brasileiro de Segurança Pública é com relação ao número de jovens. Em nível nacional, 53,3% das 53.646 mortes violentas registradas foram de jovens que tinham entre 15 e 29 anos. Quando o assunto é sistema prisional, os dados mostram que 54,8% das 499.315 pessoas encarceradas estavam dentro dessa faixa etária.
Na Paraíba, em específico, esses dados se concretizam. Das 1.545 mortes por agressão registradas, 929 foram de jovens até 29 anos de idade, o que corresponde a 60,1% do total. Dos presos, por sua vez, 4.742, ou seja, 53,5% estavam dentro dessa faixa etária.
O conselheiro tutelar Luiz Brilhante comentou que acredita que os jovens ainda são desassistidos. Para ele, faltam políticas públicas que propiciem a essa parcela da sociedade, principalmente à mais pobre, maiores condições de educação, esporte e lazer. “Nós dos Conselhos Tutelares vemos que ainda falta muita coisa. As drogas estão muito presentes, e a falta de políticas faz com que elas estejam mais vulneráveis ao envolvimento na criminalidade. Tem áreas que não têm uma quadra nem uma creche. É preciso um trabalho preventivo mais incisivo para garantir que, com os encaminhamentos que nós estamos sempre fazendo, as crianças possam ter mais assistência”, opinou.
Jornal da Paraíba

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